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TOP POP TRILHA SONORA PARA LER HQ – Parte 2

RESPOSTA DO LEITOR

Por Chico Castro Jr.

Esse negócio de trilha sonora é coisa séria. No cinema, é a música - e também a sua ausência - que determina o tom da cena que estamos assistindo. Já pensou se, em vez da grandiloquente "Also spracht Zarathustra", Stanley Kubrick tasca a cretina "O Passo do elefantinho" para emoldurar seu alentado balé espacial? Ficaria ótimo - para um filme de Mel Brooks, claro.

Seria mais ou menos como folhear uma revista da Mônica enquanto se ouve o Beneath the remains, do Sepultura. (Acho que até conheço gente capaz de se divertir assim, mas eu não emprestaria dinheiro a eles - até por que não tenho!).

Assim, em mais um serviço de utilidade pública aos leitores sem noção do Pop Balões, listo aqui mais algumas sugestões de trilhas sonoras ideais para se ler HQs. Sem muito mais enrolação, vamos a elas.

1-Retrofoguetes - Começo puxando a brasa para a sardinha do meu querido rock baiano, recomendando as suítes surf espaciais dos Retros para embalar suas leituras de ficções científicas ou podreiras em geral: EC Comics, Madman, Adam Strange, Flash Gordon, Super Homem (Era de Prata). O misto de surf music com space opera de Rex, Morotó e CH casa perfeitinho com aventuras em planetas bizarros, armas de raios, visão de raios-x, dimensões alienígenas e monstros de seis cabeças e três mamilos.

2-Johnny Cash - O Homem de Preto parecia, por si só, um personagem do western (Sartana?). Não causa surpresa que suas canções casem tão perfeitamente com quadrinhos de bangue-bangue. Sejam os clássicos italianos (Tex, Zagor, Ken Parker), franceses (Blueberry) ou americanos (Jonah Hex), músicas como Folsom Prison blues ou Ghost riders in the sky, entre muitas outras, parecem ter sido escritas para acompanhar esses gibis. Na verdade, o próprio Cash era conhecido como um storyteller, devido ao seu jeito falado de cantar, sempre narrando uma historinha envolvendo crimes, álcool e danação.

3-Muse - O sonzão pesado, grandiloqüente, desesperado, trabalhado e criativo dessa banda inglesa é o fundo sonoro ideal para as tramas muito loucas e em grande escala dos britânicos Warren Ellis e Mark Millar. Impossível ouvir Apocalypse please, do álbum Absolution, por exemplo, e não relacionar com o espetáculo fim do mundo em widescreen de The Authority, Transmetropolitan e Pesadelo Supremo (Elis) ou Chosen, Os Supremos e Wanted (Millar).

4-Stereolab - Pense em um som psicodélico, cheio de ambiências alienígenas, algo entorpecente e, ao mesmo tempo, acessível aos terráqueos. A banda da francesa Laetitia Sadier e seus vocais paralisantes são minha sugestão para acompanhar a leitura de A Garagem Hermética, de Moebius. Experimente. Mas não me chame, OK?

5-Pixies, Pavement, Guided by Voices, Sonic Youth, Throwing Muses, Husker Du e outras - As bandas do underground americano dos anos 80 e 90 são a trilha sonora exata para ler... os autores do quadrinho underground americano dos anos 80 e 90! Óbvio! E depois, é bem capaz que Peter Bagge, Adrian Tomine, Daniel Clowes, os Hernandez Bros. e Richard Sala, entre muitos outros, tenham criado boa parte de sua obra ouvindo essas bandas. Ambiência perfeita, não?

Chico Castro Jr. escreve no blog Rock Loco e orquestra sua própria trilha sonora - olfativa - todas as noites em casa. Para desgosto de sua mulher.

   
 
 
 
 
 

 

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