Howard, o pato
Hoje em dia, estamos acostumados a ver todas as revistas das editoras norte-americanas como parte de um único cenário gigantesco, comumente chamado de “universo” - como em Universo Marvel e Universo DC. Por isso, é possível que muitos se esquecem que houve uma época que estas editoras tinham publicações que não se encaixavam nas suas linhas principais. É o caso da Marvel, que teve diversas revistas com histórias fora do gênero de super-heróis, como romances, faroeste etc. Um dos personagens desse “lado B” da Marvel era Howard, o pato.
O personagem surgiu em dezembro de 1973, como coadjuvante de uma história do Homem-Coisa, na revista Adventure into Fear #19, pelas mãos do roteirista Steve Gerber e do desenhista Val Mayerik. Desde o início, Howard foi concebido como uma paródia do Pato Donald destinada a criticar de forma ácida diversos assuntos da sociedade norte-americana dos anos 70. Além da aparência, Howard tinha o mesmo mau-humor de Donald, embora em uma escala maior, e era muito mais cínico. Tamanha semelhança, renderia um processo por parte da Disney contra a Marvel, anos mais tarde.
Em 1976, Howard ganhou revista própria escrita por seu criador, Steve Gerber, por 26 números. A Marvel também lançou em 1977 uma tira de jornal com o personagem, que inicialmente também foi escrita por Gerber, substituído mais tarde por Marv Wolfman. Gerber sempre exerceu como poucos na indústria os direitos criativos sobre Howard, principalmente depois de tornar-se editor da revista do personagem. Por isso, ele sempre tentou manter sua criação fiel ao seu conceito original, sem interferências, o que se tornou uma luta difícil quando vieram as críticas e o processo por plágio.
Vale lembrar que Howard não é o único a satirizar de forma ácida personagens de animais antropomórficos. Fritz, the Cat, de Robert Crumb, também apresenta um forte exemplo da contracultura dos anos 60 na forma de divertidas estripulias nada inocentes de um gato politicamente incorreto.
Em 1978, Steve Gerber iniciou uma disputa legal pelos direitos do personagem, uma das primeiras da indústria de quadrinhos, e acabou demitido da Marvel no ano seguinte, deixando abruptamente a revista que criou nas mãos da editora, como é de praxe no mercado. O título continuou por mais cinco edições com roteiros de Marv Wolfman, Mary Skrenes, Mark Evanier e Bill Mantlo, até que foi remodelado como uma revista bimestral em preto-e-branco com roteiro de Mantlo e desenhos de Gene Colan e Michael Golden.
Foram publicadas nove edições nesse formato e depois voltou-se ao formato americano com a numeração anterior.
A princípio, Howard não fazia parte do Universo Marvel, mas vivia em uma outra dimensão (na época, a Marvel não deixava claro que suas outras realidades estavam interligadas, como no Multiverso da DC Comics). Ele foi trazido à Terra que conhecemos por um mago e acabou caindo na cidade norte-americana de Cleveland. Esperando tornar-se um herói, Howard consegue um emprego na polícia e começava a viver suas próprias aventuras.
Logo Howard conheceu a jovem ruiva Beverly Switzer, com quem desenvolveu uma relação de afeto intrigante, afinal tratava-se de uma garota comum interessada em um pato! Os vilões também eram um elemento diferenciado da série, sempre baseados em algum detalhe do cotidiano dos norte-americanos dos anos 70 e 80, como mega-corporações e charlatanismo religioso, tudo retratado com muito sarcasmo.
O personagem teve diversos encontros com outros heróis da Marvel entre a segunda metade dos anos oitenta e toda década de noventa, no período em que Steve Gerber esteve distante do personagem.
Em 2001, com o lançamento da linha Marvel MAX de quadrinhos adultos, Gerber escreveu uma minissérie em seis edições com Howard, com desenhos de Phil Winslade e Glen Fabry. Na série, que apresentava, como em sua origem, paródias de diversas histórias de outras mídias e da cultura pop em geral, Howard passou por uma série de transformações em outras espécies de animais, numa referência à ordem para alterar a aparência do personagem resultante do processo por plágio. Contudo, isso só motivou ainda mais críticas de Gerber, que apresentou Howard como um rato claramente inspirado no Mickey.
Depois, fez algumas participações na nova série da Mulher-Hulk, escrita por Dan Slott e que aborda o papel da heroína Jenny Walters como advogada de casos envolvendo super-heróis, apresentando personagens obscuros e curiosos do Universo Marvel.
Já considerado um personagem cult da Marvel, com diversas participações em aventuras de heróis como Homem-Aranha e Mulher-Hulk, recentemente, durante a Guerra Civil, foi feita inusitada revelação sobre Howard que o deixou ainda mais intrigante.
Quando a lei de registro de super-heróis foi aprovada, Howard decidiu imediatamente se apresentar para o governo em obediência à lei, mas logo descobriu que durante todos o tempo em que viveu nesta dimensão, a S.H.I.E.L.D. moveu céus e terra para apagar todos os indícios de sua existência, devido ao grande número de problemas burocráticos causados por sua presença neste mundo. É uma forma divertida de reconhecer a peculiaridade deste personagem e o non-sense de sua existência no Universo Marvel, que sempre priorizou o realismo e a seriedade em suas histórias.
Atualmente, nos EUA, depois de colaborar com a Mulher-Hulk, Howard está cotado para fazer parte da nova formação dos Guardiões da Galáxia, que ressurgirão após uma continuação da saga Aniquilação.
(01/03/08)