Os vários mitos do Superman na Era Moderna dos super-heróis
Por Diego Figueira
Leia a Parte 5
Parte 6
Conclusão
A nova versão do Superman criada por John Byrne e Marv Wolfman se tornou um um extremo do espectro de interpretações possíveis, inicialmetne tomada como oposta à concepção das Eras de Ouro e de Prata. As versões antigas passaram a ser consideradas a expressão do Superman divino, enquanto a de Byrne, se tornou referência para um personagem mais humano. Para os autores que vieram depois deste marco que foi Man of Steel, se tornou quase obrigatório optar por uma abordagem ou outra.
Contudo, quando a nova tendência de fundir elementos de ambas as versões (e outras mais, como os filmes, seriados de televisão e desenhos animados) foi se tornando mais forte nos quadrinhos do Homem de Aço, os autores responsáveis por ela fizeram com que esta fase na história de publicações do personagem tivesse sua marca própria e se firmasse como um movimento estético bem definido dentro dos quadrinhos de super-heróis, algo mais sofisticado do que um simples retorno ao modo de se narrar das décadas de 50 e 60. Em outras publicações de várias editoras vinha se firmando um tendência conhecida como "quadrinhos retrô", que usava de várias formas referências estéticas das Eras de Ouro e de Prata aliadas a características do suporte de publicação e marcas estílisticas modernas.
Além disso, também é moderna a consciência crítica do gênero de super-heróis, que permite aos autores, mesmo usando elementos clássicos, marcados com um certo tipo de inocência, tratar de temas sofisticados sobre a condição do super-herói e seus antagonistas. Os principais nomes que consolidaram esta tendência, em algum momento, produziram uma das histórias do Superman descritas acima: Mark Waid, Kurt Busiek, Jeph Loeb, Mark Millar e Joe Kelly.
A trajetória do Superman desde os anos 80 até hoje, sugere um movimento de evolução que combina elementos de várias versões ligados por uma noção da grandeza do personagem expressa sob vários aspectos diferentes, de acordo com a abordagem preferida do autor que cria as histórias. Para Byrne, o que valia ser realçado no personagem era seu caráter, um sinal de sua humanidade que os Kent lhe deram. Assim, ao reduzir os poderes do Superman, Byrne o tirou do status de divindade que a versão anterior possuía e que já era vista até mesmo por acadêmicos como Umberto Eco como uma analogia para o pobre cidadão mediano que espera em algum momento revelar-se alguém especial. Certamente essa interpretação um pouco reducionista (não da parte de Eco, mas daqueles que se apropriaram de seu ensaio para cair no sentido comum), não agradava a Byrne e a muitos leitores que se viram taxados de ingênuos.
Por isso, na versão de Byrne vemos – e isto está dito na edição em que Clark descobre sua origem krytoniana - que apesar da fantasia, o herói é Clark Kent. Tanto que mesmo como repórter ele é um homem de sucesso, vencedor do prêmio Pulitzer e capaz de salvar o dia de formas que o Superman não poderia. Vários outros elementos da nova origem conduzem a uma visão mais humana do personagem.
Curioso é que mesmo aqueles que preferem uma abordagem que enfoque mais o “alienígena” e o “super” do personagem lidaram bem com o trabalho de Byrne. Apesar de não fazer as coisas mirabolantes que as suas versões pré-Crise podiam, a versão moderna tinha uma aura de grandeza e poder, derivada justamente deste elemento moral que Byrne deu ao herói. Com isso, evidenciou-se ainda mais a importância do personagem para a DC e os quadrinhos em geral, de modo que o Superman sempre foi mostrado como o maior herói de todos, um modelo insuperável.
Uma vez consolidada esta idéia, os escritores puderam novamente elevar o nível de poder do personagem, aproximando esta versão das anteriores. Isso se deu de uma maneira gradual durante a última década e contou com a colaboração de Jeph Loeb, Grant Morrison, Mark Millar e culminou em Liga da Justiça e Vingadores, onde Kurt Busiek mostrou sem rodeios que mesmo esta versão do Superman é maior que qualquer outro herói. Esta foi a porta de entrada para a minissérie Superman: O Legado das Estrelas, onde se propõe uma nova origem do Homem-Aço que funde todas as idéias que orbitam o nome do personagem até o presente momento de sua publicação.
Mais recentemente (após o término desta pesquisa) a minissérie Crise Infinita ajudou a cristalizar ainda mais a transposição para dentro do universo de persnagens da importânica do Superman para o mercado dos quadrinhos. Nas partes finais sagas, constata-se que nas inúmeras realidades paralelas em que surgiram super-heróis, "tudo começa com um Superman".
Atualmente, o Superman expressa sua grandeza tanto física (com sua presença marcante e seus super-poderes insuperáveis) quanto moralmente, através da inspiração que ele causa nas pessoas para fazer o bem. É possível dizer que neste ponto de sua evolução como personagem, ele está num estado de completude que supera a polarização de conceitos e faz dos quadrinhos como um todo um gênero artístico sofisticado, capaz de combinar conceitos antagôncios de forma estéticamente rica e interessante. Sua personalidade multifacetada permite o emprego de vários elementos narrativos desenvolvidos nos últimos anos, que dão uma dimensão mais ampla da caracterização de personagens, vários tipos de narradores e conflitos entre pontos de vista.