Superman – Identidade Secreta
Panini Comics/DC Comics
RS 19,90 – Edição Especial
Formato Americano – 196 páginas
Por
Superman: Superman – Secret Identity # 1 a 4
Argumento: Kurt Busiek;
Desenhos, Arte-Final e Cores: Stuart Immonen.
Talvez seja meio batido ou muito provavelmente já foi dito com outras palavras, mas é algo digno de ser repetido se não é novo: em meio a inúmeras histórias em quadrinhos constantemente produzidas, poucas podem ser chamadas de boas, e dentre essas, menos ainda podem ser classificadas como ótimas. Em meio a essas ótimas, um pequeno número se destaca por tornarem-se clássicas e no meio delas um número muitíssimo menor pode ganhar a alcunha de raridade ou memorável. Esta é uma delas.
Identidade Secreta, mesmo sendo um “Elseworld”, ou seja, colocada fora da cronologia oficial do Superman, é, sem dúvida nenhuma, uma das melhores histórias produzidas com o Homem de Aço desde junho de 1938, quando Action Comics nº. 1 chegava às bancas norte-americanas e apresentava ao mundo aquele que se tornaria seu maior herói.
Nela o leitor é apresentado não a um bebê colocado em um foguete e enviado à Terra, mas a um menino nascido aqui, igual a nós, com medos, desejos e sonhos, como qualquer outro de sua idade. Também do Kansas, mas de Picketsville, e tendo o sobrenome Kent, acaba sendo batizado por seus pais com o nome de Clark, coisa que ele, da infância ao início da vida adulta, detestou profundamente. A comparação com o super-herói, que na história é tratado como personagem fictício, assim como em nosso mundo, é inevitável e faz com que ele seja alvo de piadas praticamente a vida toda; e pra piorar, sua família acha o máximo, presenteando-lhe com tudo que pode haver sobre o Superman. Sua vida, porém, muda profundamente quando de uma hora para outra ele se vê agraciado com os poderes do personagem do qual tanto evitava ser comparado.
Toda a narrativa é colocada sob o ponto de vista de Clark Kent, então o leitor é colocado de maneira que poderia se sentir como ele próprio; seria um sonho realizado de muitos leitores de histórias em quadrinhos, mas se nos fosse concedida essa dádiva, o que faríamos com ela? Ganharíamos fama e dinheiro? Esconderíamos essas habilidades com medo de retaliação? Ou ajudaríamos o próximo?
Felizmente, a exemplo do seu homônimo kryptoniano, ele também decide fazer o bem às pessoas, não sem dificuldade. E é aí que reside toda a magia da trama: Clark decide fazer o bem para simplesmente ajudar, fazer do mundo um lugar melhor, mesmo sendo humano, com acertos e erros, com virtudes e defeitos. É risível e nos faz sentirmo-nos mais próximos a ele quando, por exemplo, confessa ter espiado com a visão de raios-x o vestiário feminino.
E assim a história segue, de início focando em sua adolescência e descoberta dos poderes, seguindo depois para a vida adulta e conquista do emprego, a descoberta do amor de verdade e constituição de família e por fim, sua velhice. Não sem descobrir que infelizmente há muito mal no mundo também, seja nos valentões da escola ou no vilão personalizado pelo governo dos EUA, que na verdade o espionava por temê-lo. A razão por decidir usar óculos, tal qual o Clark dos quadrinhos, por exemplo, ficou ótima.
Mas os bons momentos são maravilhosamente superiores a qualquer mal que possa haver no coração das pessoas, fazendo-nos crer que é possível sim acreditar no melhor: Conhecer a mulher com quem futuramente dividirá a vida, que por brincadeira dos colegas foi apresentada a ele por ter o nome de Lois, e a alegria de descobrir que vai ser pai são momentos brilhantemente mostrados na narrativa.
Ficamos igualmente tristes com ele ao perceber que os poderes já não são como antigamente devido à idade que avança, ou igualmente apreensivos ao pensar que suas filhas também têm superpoderes e que o governo pode perseguí-las também. E no fim, chegamos à mesma conclusão que ele, que desejamos exatamente isso para nossas vidas, independente dos caminhos que seguirmos: que ao final de tudo, ao olharmos para trás e revermos tudo o que foi vivido, pesados os pós e os contras, possamos dar um sorriso e dizer “valeu a pena!”.
A arte de Immonen completa toda esta história magnífica, dando o realismo necessário e fazendo com que tudo pareça mais crível, mais real. O enquadramento, as sombras, as cores, as feições, tudo é perfeito. Pode-se perceber também o quanto o próprio desenhista evoluiu desde sua passagem pelo título regular do herói, e mostrando que não é à toa que ele é sucesso também por seus demais trabalhos.
Vale observar que, assim como a série seguiu uma linha da vida humana, Immonen presenteou os leitores com a evolução da arte nos quadrinhos na seqüência no final da história. Ele começa com a pop art, como as HQs dá década de 1940 e vai evoluindo nos quadros seguintes, influenciados pelo realismo fotográfico, a simplicidade do mangá, as formas retilíneas dos desenhos para TV da DC até fechar de um modo altamente minimalista, sem desperdiçar nenhuma linha.
Assim como a vida, a arte evoluiu; e na visão de Immonen, com o tempo o desenho fica mais sutil, se investe menos energia para fazer algo muito melhor. Depois disso, ele encerra a revista com uma seqüência de tirar o fôlego, com o Superman voando para o pôr-do-sol.
Enfim, o toque de nostalgia e de ingenuidade da Era de Ouro, um narrador pacífico como um avô contando uma história, imagens de uma beleza sem igual e uma visão totalmente peculiar de um herói tão importante são apenas alguns dos motivos que tornam Identidade Secreta imperdível.
Esta é uma verdadeira e sincera homenagem ao mito do Superman, que a Panini felizmente lançou como um encadernado, dando um brilho todo especial à coleção de qualquer leitor. É uma edição que realmente merece ficar na estante e ser relida pela vida toda, conforme envelhecemos como o próprio Clark Kent.
(Esse texto é parte integrante da nossa série A Revolução Pop Escolar: Propostas para uma Nova Biblioteca)