A Loja Mágica de Brinquedos
Um clássico infantil vale menos que um clássico normal? Será que temos vergonha de assistir um filme para crianças? Ou pior, de gostar de um filme para crianças?
A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium Wonder Eporium) é um filme para crianças. Não só pelo nome, mas nós aqui no Brasil temos um parâmetro fácil para distinguir o público para o qual é direcionada a história, basta olhar se os cinemas terão predominantemente cópias dubladas ou legendadas. Os filmes legendados sempre são tidos como algo para adultos, pois, só estes teriam a paciência, ou a agilidade para ler legendas. Na verdade é mais que isso, mas essa é uma discussão para um outro momento. (Nesse post do blog eu elaborei um pouco mais essa questão, caso alguém se interesse)
Essa divisão pragmática de faixa etária acaba gerando um certo problema, pois muitos adultos acabam deixando de lado ótimos filmes, como é o caso de A Loja Mágica de Brinquedos. Mas não espere que este seja um filme igual Sherek que acaba sendo tão adulto que as crianças dificilmente entendem tudo, mas acham fofinho. Este é realmente um filme feito para crianças, pensando nelas, com uma história tão encantadora e uma lição moral tão importante que se recomenda para todos os adultos.
Antes de mais nada, o filme tem todo o básico necessário para ser bom. Tem Zach Helm, de Mais estranho que a Ficção, novamente fazendo um bom roteirista e agora estreando muito bem como diretor. Conta com dois atores excelentes do elenco, Dustin Hoffman e Natalie Portman. Além disso o filme é muito bem filmado, tem bons efeitos especiais e um ritmo que contagia e te faz entrar facilmente na história.
Tudo isso já garante uma boa diversão e vale o passeio com as crianças ao cinema. Mas, ainda existe uma discussão interessante que pode ser levantada a partir do filme.
Nos quadrinhos temos visto uma onda crescente de tornar tudo muito sério, científico e plausível. Mas, é claro que nem tudo é possível. Algumas histórias, então, acabam caindo em um certo ridículo de ter tudo tão sério que certos elementos necessários, como alguém ter poderes, ou mesmo a coragem de se atirar ganchos e se balançar sobre prédios acaba se tornando algo risível. Outras poucas conseguem fazer um bom equilíbrio da situação e ter uma verossimilhança na medida certa, ao ponto daquilo parecer com a nossa realidade, mas sem perder a sua necessária magia.
Esse é o caso desse filme. Se pensarmos nos diversos elementos que ele apresenta na trama, podemos dizer, inclusive, que o filme consegue atualizar e recontar, na forma que tem-se trabalhado as narrativas atualmente, a clássico Peter Pan.
Aqui não temos a Terra do Nunca inalcançável para a maioria das pessoas, mas uma Loja Mágica de Brinquedos, onde tudo é possível, onde tudo é incrível e que está acessível para todas as crianças e pessoas que tenham a mente aberta o suficiente.
Peter Pan, no caso o fabuloso Mr. Magorium, interpretado por Dustin Hoffman, cresce fisicamente, envelhece, mesmo que mais lentamente que a maioria das pessoas e tem plena ciência de que irá morrer e sua vida incrível se encerrará. Ele sabe que não é invencível, ele não faz birra, ou luta contra as coisas. Ele vive sua vida naturalmente, mantendo o espírito de uma criança. Mantendo a mente aberta e a imaginação fértil que faz tudo ser possível para os outros.
Nessa história não existe exatamente um Capitão Gancho, ou um grande duelo, e não precisa. Todos nós viramos o Gancho e ficamos raivosos e deformados quando ignoramos a mágica do mundo e recusamos acreditar em nós mesmo e ter um pouco da inocência que tínhamos quando éramos criança.
No fim das contas é contra si mesma que a personagem de Natalie Portman terá que lutar. Ela é, ao mesmo tempo, Gancho e Wendy, sem a presença de Magorium ela esquece que tudo é possível e esquece que ela tem um talento próprio.
Bom, nessa analogia falta a Sininho, alguém para ficar perto de morrer, mas que só precisa que todos acreditem que ela existe para continuar viva como sempre e esse papel é acumulado pela Loja de Brinquedos que sem as pessoas certas para acreditar nela, perde sua cor, perde sua mágica e vira um lugar sem graça e abandonado.
No fim, como todo bom filme para crianças, esse acaba tendo uma moral da história. Mas não é algo para ser recitado por um narrador, é algo maior, próximo a uma sensação que te dá aquela pequena alegria que você não sabe justificar, tornando esse filme próximo da classificação: feel good movie (filme para se sentir bem).