Uma história ilustrada da BD

CLARK, Ian, CLARK, Laurel. Comics: uma história ilustrada da B.D. Portugal : Grupo Distri Cultural, 1991.

É uma pena que este seja um livro difícil de se encontrar em livrarias e bibliotecas do Brasil. A obra chegou até algumas bibliotecas de universidades numa versão editada em Portugal em 1991 e só é possível adquirir um exemplar através de importadoras.

No entanto, trata-se de uma das melhores e mais completas obras que tratam do desenvolvimento das histórias em quadrinhos como forma de arte e meio de comunicação. Os autores abordam desde os mais antigos primórdios da carcicatura e da ilustração na imprensa do mundo todo até os movimentos de vanguarda nos quadrinhos dos anos 60, 70 e começo dos 80.

A pesquisa é cuidadosa, cheia de detalhes de diversas publicações, com suas datas e número total de edições. E o detalhe mais importante deste livro: uma divisão por países e regiões, com EUA, Inglaterra (a terra natal dos autores), a Europa continental, Ásia e outras partes do mundo. Nestas outras partes estão até países como o Canadá, que em geral é considerado um submercado dos EUA, mas tem suas particularidades cuidadosamente analisadas pelos autores, com destaque para o clássico alternativo Cerebus, do controverso Dave Sim.

Outros mercados menores e quase desconhecidos, pelo menos por nós brasileiros, são apresentados no livro, dando uma boa idéia de como a nona arte se dispersou mundo afora, mas sempre se desolvendo com a assimilação de marcas da cultura de ilustração e imprensa locais.

Os quadrinhos brasileiros, muito bem representados pela Turma da Mônica, são destacados como uma produção de sucesso que alcança vários outros países da América Latina e da Europa.

Além de um texto detalhado, há muitas ilustrações de qualidade e que representam muito bem os temas tratados. Estas imagens também são acompanhadas de legendas que trazem ainda mais informação, como se funcionassem como notas de rodapé, trazendo detalhes que não caberiam no texto prinicpal. Assim, há muito mais dados técnicos e históricos sobres as principais obras, mas o texto não se torna cansativo.

A vantagem deste trabalho é que se torna possível ter ao mesmo tempo uma análise histórica dos quadrinhos (composta principalmente pelo texto) e um panorama da estética das revistas ao longo do tempo, dado pelas imagens e suas legendas. Esta é uma característica que torna este livro um excelente complemento para História das Histórias em Quadrinhos, de Álvaro de Moya, que se apoia muito mais na apresentação de amostras de tiras e páginas de quadrinhos do que nos textos críticos.

Nas análises, percebe-se como a nona arte foi consolidando seu lugar na cultura de diversos países pela maneira como sujeitos de origens diferentes passaram e se envolver com sua produção e como o perfil de leitores se transformou ao longo dos anos. Os autores apontam como estes sujeitos chamaram a atenção de outros cículos da cultura para os quadrinhos, editando fanzines e revistas diferenciadas, realizando exposições, salões, conferências e estudos críticos.

Exemplo disso é a carreira de Roy Thomas, que começou colaborando com o fanzine Alter Ego, escrevendo artigos sobre quadrinhos, e depois se tornou argumentista da Marvel. No mesmo período, acontecia o nascimento do mercado direto nos EUA com as primeiras comic shops, o que levou logo às primeiras convenções de quadrinhos. Esse clima passou a influenciar a produção de quadrinhos, modificando sensivelmente as relações entre autores e leitores naquele mercado.

Para aqueles que se interessam por uma reflexão sobre estas relações e como isso tudo definiu as características dos quadrinhos ao longo do tempo, a obra dos Clark é leitura obrigatória. Vale a pena uma pesquisa nas bibliotecas das principais universidades do Brasil para encontrar este livro.

 

(Esse texto é parte integrante da nossa série A Revolução Pop Escolar: Propostas para uma Nova Biblioteca)

 

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