História das Histórias em Quadrinhos

O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a ter pesquisadores interessados em compreender o fênomeno das histórias em quadrinhos. O país sediou aquele que é considerado o primeiro evento destinado a este tipo, ainda na década de 50. Os responsáveis por estes trabalhos logo se tornaram referência nos estudos sobre quadrinhos e a maioria deles ajudou a criar o Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP.

Uma das principais obras fruto destes pioneiros é a História das Histórias em Quadrinhos, de Álvaro de Moya. Trata-se da primeira e mais conhecida obra de referência sobre histórias em quadrinhos nacionais e internacionais feita no Brasil, com diversos textos críticos de Moya sobre os personagens e autores mais importantes.

O livro cobre a história da publicação de tiras e revistas em quadrinhos desde a criação do Yellow Kid até o final dos anos 60. Quando o livro ganhou uma segunda edição em 1993, um apêndice foi acrescentado com as principais obras dos anos 80.

Para quem não leu nada do que está descrito na primeira edição do livro, a obra é excelente para se entender como as coisas eram bem diferentes. Como as tiras de jornal foram a linha de frente dos quadrinhos até o começo da década de 40, quando finalmente as revistas tomaram conta do mercado.

Durante muito tempo neste período, o gênero preferido dos leitores eram as comédias de costumes, como o Connie. A mudança aconteceu quando em 1929 começaram a aparecer os heróis de aventura, como Buck Rogers, Flash Gordon, Tarzan, Fantasma e outros. Com eles a ação e a aventura começou a dominar a preferência dos leitores e foram sem dúvida o primeiro passo para o surgimento dos super-heróis, a começar pelo Superman, em 1938.

Além disso, Álvaro de Moya trata dos autores do underground, que ficaram longe do grande mercado e de autores de outros países, com temáticas e estilos diversos. Foi entre esses autores que nasceram as vanguardas que promoveram o amadurecimento dos quadrinhos a partir dos anos 60.

É possível que alguém estranhe a pouca presença de super-heróis entre os grandes destaques da história das hqs, mas é preciso lembrar que na época nem tudo que se fazia neste gênero era tão digno de nota do ponto de vista artístico. E Moya e seus coelgas sempre tiveram um senso crítico muito apurado quanto a isso, preferindo chamar a atenção do leitor e do pesquisador interessado em quadrinhos para obras bem mais inspiradas e elaboradas, que nem sempre tinham o destaque mercecido.

Talvez, o público de hoje sinta falta de uma nova obra como essa, abrangendo com mais profundidade os anos 80 e além. Muita coisa aconteceu nestes vinte e cinco anos, talvez um crescimento tão grande e intenso como nas primeiras décadas de produção de hqs. Leitores de todas as partes do mundo passaram a ter contato com quadrinhos de outros países e isto teve conseqüências no trabalho de autores mais novos.

Quem sabe, com o volume de pesquisas que se faz nas universidade hoje, logo uma obra assim apareça.

(Esse texto é parte integrante da nossa série A Revolução Pop Escolar: Propostas para uma Nova Biblioteca)

 

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