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A Lenda de Beowulf

Antes de 2007 acabar, chegou aos cinemas um dos candidatos a grande sucesso nas férias. A Lenda de Beowulf é um daqueles filmes que não está diretamente relacionado com histórias em quadrinhos mas acaba chamando a atenção dos fãs e da mídia especializada no assunto. Primeiro, porque trata-se de uma adaptação de uma obra literária que é a matriz de todas as narrativas épicas medievais e da fantasia moderna, gênero que tem fãs tão dedicados quanto os super-heróis da Marvel e da DC. Segundo, porque o roteiro ficou a cargo do famoso roteirista Neil Gaiman. 

Desde as primeiras notícias da pré-produção, as atenções de todos se concentraram nas técnicas de animação por meio da captação de movimento dos atores. O filme tinha ambição de ser um marco para o cinema, revolucionando a indústria ao aplicar na obra toda a técnica que deu vida ao Golum de O Senhor dos Anéis.

Sem dúvida o aspecto técnico da produção é um dos elementos mais atraentes de A Lenda de Beowulf. Nos primeiros minutos é impossível não se envolver pelo movimento das figuras na tela, especialmente para aqueles espectadores que puderam assistir ao filme numa das poucas salas 3D existentes no Brasil. O resultado é muito superior a tudo que foi feito até agora. Claro que se o espectador mais impertinente desejar escamotear a tela em busca de um detalhe, um gesto ou iluminação que denuncie a imagem na tela como artifcial, ele encontrará, mas a história não perde em naturalidade ou verossimilhança por isso.

Uma coisa importante a se considerar na discussão sobre o uso da animação digital é o gênero desta produção. Um épico com fortes elementos de fantasia abre espaço para uma série de situações no enredo que são favorecidas pela nova tecnologia. Por exemplo, a disputa de natação de Beowulf contra um desafiante, que chegou a durar semanas (segundo relato do próprio herói...) não seria a mesma coisa com os efeitos tradicionais. O que é comum na literatura era um desafio enorme para o cinema e este filme muda um pouco isso. Tratando-se da adaptação de uma obra tão importante, é um grande vitória do cinema.

As transformações por que passam os personagens também tiram proveito da computação gráfica. Seja com diferenças mais óbvias, como no corpo de Beowulf, ou sutis, como na face da rainha, a aparência dos personagens muda com a passagem do tempo e os traços que ganham destaque são justamente aqueles que mais revelam sobre a personalidade de cada um. 

Depois do espectador se acostumar com a atmosfera do filme, o enredo assume seu devido lugar na tela, sem exageros na virtuose da computação gráfica. Mais uma vez, podem afirmar que não há nada de surpreendente na saga de Beowulf, mas devemos lembrar que o texto original é a origem de muitos dos “clichês” de hoje e é preciso acompanhar a história sabendo que ela influenciou todo imaginário sobre novelas de cavalaria, romances de aventura e fantasia do milênio passado.

Aliás, como Neil Gaiman conhece e respeita muito esta tradição literária inglesa, sua fidelidade ao texto impediu que ele inserisse muitos elementos modernos na narrativa que pudessem causar surpresa, mantendo-a simples como realmente é. Assim, não é previsibilidade o que existe, mas a noção de que o destino do herói está traçado. Até mesmo o ritmo parece seguir o padrão do poema, em que certas passagens importantes resolvem-se rapidamente, com pouco clímax.

Um traço marcante de Sandman e outras obras de Gaiman também está presente no filme: o interesse pelo poder das narrativas, a história dentro da história. Depois de velho, o rei Beowulf convive com sua própria lenda que seus servos e inimigos cantam nos quatro cantos da Europa medieval. Talvez este seja o traço mais moderno do filme, o conflito entre o homem e lenda, a versão oficial e aquela vivida pelo herói.

Beowulf é um personagem que ajuda a explicar muita coisa sobre o imaginário moderno sobre heróis e alguns hábitos culturais de muitos países ocidentais. O filme deixa claro como o herói, iniciador de toda um tradição que se desenvolveu na Inglaterra e países vizinhos, é antes de tudo um bárbaro rude e violento. Combatente por natureza, mesmo na velhice Beowulf tem dificuldade para agir com sabedoria ao invés dos músculos e da fúria.

Vale lembrar que, mesmo sendo uma animação, todos os personagens forma interpretados e tiveram seus movimentos reproduzidos por computação. Assim, é obrigatório dar o devido crédito aos atores Ray Winstone, Anthony Hopkins, John Malkovich, robin Wright Penn, Brendan Gleeson, Crispin Hellion Glover, Alison Lohman e Angelina Jolie.

 



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