Homem-Aranha 3
A maioria da crítica tem apontado o terceiro filme do Homem-Aranha nos cinemas como o mais fraco até agora, mas mesmo assim os números de bilheteria mostram que a franquia continua indo de vento em popa. Além disso, no balanço geral, a seqüência mantém o nível das adaptações anteriores e só pode frustrar os que esperavam algum tipo de “evolução” do que já era bom – o que é bem comum entre fãs de qualquer mídia.
O alvo principal das críticas tem sido o excesso de tramas paralelas no enredo, a apresentação dos três vilões e outros protagonistas, com a belíssima Gwen Stacy. De fato, o que já foi problema em X-Men 3 acontece com o novo filme do Aranha, e o excesso de informação torna a narrativa um tanto súbita e talvez cansativa. Contudo, não chega a ser um desastre e a soma das partes ainda é bem satisfatória.
Isso graças especialmente aos excelentes efeitos especiais que, como de costume, evoluem muito de uma seqüência para outra. A grande novidade agora fica por conta das lutas aéreas entre o Homem-Aranha e Harry Osborn, que assumiu o manto do Duende Verde. Agora herói e vilão podem exibir plenamente suas habilidades, para o deleite dos fãs que conseguirem mover os olhos rápido o suficiente.
Certamente, a maioria não esperava que dos três vilões que dão as caras no filme o Homem-Areia fosse o que se mostrasse mais interessante, com destaque para a cena de sua origem, plasticamente muito bem feita. Os outros dois, Venom e o novo Duende, sofrem com a falta de tempo para terem uma história bem amarrada e não correspondem totalmente à expectativas de quem acompanha os gibis e/ou os filmes anteriores.
No caso de Venom, todas as peças de propaganda deste filme apontavam para um maior destaque deste vilão na trama, como o reflexo sombrio do herói. Não chegou a ser um fiasco, mas sua trama é a que mais perde com o excesso de acontecimentos do enredo.
Já Harry Osborn teve seu desenvolvimento natural desde os filmes anteriores, mas os roteiristas planejaram para ele um trajeto como personagem que renderia um filme todo. Ainda assim, as cenas de ação mais empolgantes são protagonizadas por ele.
Enquanto isso, no seu papel de vilão coadjuvante, o Homem-Areia cativa mais do que o esperado, literalmente enchendo a tela com um visual que chega a ser mais impressionante do que o dos outros personagens porque é o mais claro, sem o excesso de movimentos vertiginosos das cenas em que o Aranha enfrente Harry e Venom.
Apesar do enredo deixar escapar algumas boas oportunidades de aproveitamento dos personagens coadjuvantes, a caracterização de Peter Parker continua tão boa quanto nos filmes anteriores. É esse o ponto alto de todo o trabalho do diretor Sam Raimi com o personagem e com certeza se beneficiou muito do talento crescente de Tobey Maguire, que nesta seqüência está brilhante.
Sem dúvida o maior destaque vai para a seqüência em que, dominado pelo simbionte alienígena, Peter sofre uma transformação de caráter que culmina numa hilária cena em que ele promove uma mudança de visual acompanhada de uma performance de dança escandalosa. Foi uma grande sacada do diretor para dar equilíbrio a este lado sombrio do filme.
Alguns elementos narrativos dos filmes anteriores reaparecem justamente para reforçar a imagem que Raimi tem do herói. Por exemplo, novamente o Aranha enfrenta os inimigos diante da multidão sem máscara. O que nos gibis já virou uma piada batida (dizem que é difícil achar quem NÃO o tenha visto sem máscara), nos filmes passa a idéia de que não existe separação entre Peter e o seu alter-ego, que ele não deixa de ser o homem cheio de problemas que é quando veste a máscara, mesmo neste momento em que é idolatrado por toda população de Nova Iorque.
Trata-se de uma interpretação do significado de ser herói bem diferente da que está presente no senso comum dos produtores de cinema e televisão. Assim ressalta-se o lado trágico do personagem, que tem de enfrentar em suas duas identidades a sede de vingança de Harry, o verdadeiro assassino de seu tio Ben e os problemas de relacionamento com Mary Jane.
Outro destes elementos é o confronto de Peter com o verdadeiro responsável pela morte de seu tio Ben. Sem discutir se a mudança no que os espectadores sabiam é prejudicial ou não, ao menos mantém um elemento que o diretor desenvolveu desde o primeiro filme: o envolvimento pessoal do herói com os vilões num conflito que não pode ser resolvido simplesmente numa luta. Foi assim com o Duende Verde original e com o Dr. Octopus, que conheciam Peter e tinham uma relação ambígua com ele. Agora a tensão se dá na revelação final que o tal vilão faz, lembrando Peter de como seu tio o ensinou a agir.
Tudo isso fecha muito bem a passagem de Sam Raimi pelos filmes do Homem-Aranha, já que é praticamente certo que ele não dirigirá uma possível continuação a ser confirmada pelos produtores. Raimi sempre levou para as telas uma visão autentica do personagem, que não se apegava a esta ou aquela história que os fãs poderiam dizer se era a melhor ou pior opção. Em tempos em que mesmo nos quadrinhos já não há mais versões absolutas de qualquer coisa (basta ler as versões Ultimate dos heróis da Marvel), os filmes do Homem-Aranha são um bom acréscimo ao imaginário dos super-heróis.