Gil Kane
Gil Kane é o pseudônimo que tornou famoso Eli Katz, nascido na cidade de Riga, na província soviética de Latvia, na atual Letônia, em 1926. Em 1929 sua família emigrou para Nova Iorque onde mais tarde teria contato com os quadrinhos por meio de Príncipe Valente, Flash Gordon e Os Sobrinhos do Capitão.
Depois de estudar no Art Students League, começou sua carreira de desenhista com dezesseis anos, com era comum na época. Em 1948 já esteve trabalhando em meio aos mais reconhecidos artistas da industria dos quadrinhos, colaborando com Joe Simon e Jack Kirby nos títulos Sandman e Newsboy Legion.
Durante este princípio de carreira trabalhou para mais de uma dúzia de editoras e assinou seus desenhos de diversas formas, Scott Edwards, Al Kame, Al Stack e Pen Star. Foi em 1947, em sua passagem pelo personagem Pantera Negra em Sensation Comics da DC, que Eli, depois de assinar alguns números como Gil Stack, mudou definitivamente para Gil Kane.
O próprio Eli não se considerava um artista excepcional até então e acreditava que isso acontecia por se sujeitar a uma mecânica de produção industrial que lhe tolhia toda liberdade de criação.
Em 1959, o roteirista John Broome recebeu a encomenda de resgatar o Lanterna Verde, assim como a editora já havia feito com o Flash e convidou Kane para ser o desenhista. Na onda das reformulações de personagens da Era de Ouro e com o sucesso de Green Lantern com garantia, Kane ligaria seu nome definitivamente à Era de Prata dos quadrinhos com o título Atom (Elektron).
Durante toda a década de 60 Kane esteve associado aos quadrinhos de super-heróis, onde definiu completamente seu estilo com enquadramentos de ângulos ousados, expressões tensas e muito bem marcadas e traços expressivos. Em 1967, depois de se desentender com o editor da DC, Carmine Infantino, começou a trabalhar também para a Marvel desenhando um Hulk que não agradou muita a Stan Lee, que achou que a versão de Kane para o personagem era muito feia.
Mas nem por isso deixou de fazer diversos títulos para a Casa das Idéias nos anos 70, todos de muito sucesso, incluindo a trágica morte de Gwen Stacy em The Amazing Spider-Man. Além disso, passou por Captain America, Warlock, Captain Marvel, Daredevil (Demolidor), Marvel Premiere, Werewolf by Night, Ghost Rider (Motoqueiro Fantasma), Micronauts, Ka-zar.
Kane era um artista muito veloz, capaz de desenhar e arte-finalizar até quatro páginas por dia, ou sete se precisasse apenas fazer o lápis. Mas seu trabalho favorito era desenhar capas, pois podia exercitar sua criatividade e fazer composições mais arrojadas do que no interior das revistas. Sua rapidez também contava para essa tarefa. Estima-se que ao longo dos anos 70 Kane tenha desenhado nada menos que 800 páginas para a Marvel.
Sua excepcional produção influenciou a maioria dos artistas da segunda geração da Marvel, como Dave Cokrum, John Byrne, Frank Miller, John Romitta Jr, etc. Foi criador do Punho de Ferro e do vampiro Morbius. Em uma entrevista de 1996, Kane declarou que sua fase na Marvel foi o momento mais feliz de sua vida.
Sempre querendo fugir do terreno estéril dos quadrinhos mais comerciais e decidiu investir em trabalhos mais autorais. A primeira dessas tentativas veio com a série T.H.U.N.D.E.R. agents que publicou pela desconhecida Tower Comics. Depois veio His Name is...Savage que foi produzida pela Cable. Antecipando-se em mais de 20 anos ao boom do quadrinho em preto e branco, Savage incorporava os elementos estéticos dos pulps, dando aos quadrinhos um aspecto mais adulto. Ambos os trabalhos, boicotados pelas grandes editoras e esquecidos pelas distribuidoras, não chegaram ao segundo número.
Em 1971 assinou contrato com a editora Bantam Books para produzir em parceria com Archie Goodwin oito novelas gráficas de um épico da ficção científica intitulado Blackmark. A série misturava elementos do gênero capa e espada com a fantasia de Edgar Rice Burroughs. A série foi cancelada depois do fracasso do primeiro número, que teve problemas com a distribuição. Kane chegou a terminar um segundo volume, que acabaria sendo publicado pela Marvel.
Roy Thomas iniciava neste momento das aventuras de Conan, o Bárbaro para os quadrinhos e convidou Kane para desenhar as histórias. Kane permaneceu no título por dezessete números, adicionando mais um marco na história dos quadrinhos ao seu currículo.
Em 1977, ele e o escritor Ron Goulart criaram, para os syndicates, a tira de ficção científica Starhawks. Numa época em que a tira de aventuras não tinha mais espaço nos jornais, eles conseguiram a façanha de publicá-la por quase sete anos.
Nos anos 80 voltou a trabalhar com o mercado de super-heróis, depois de ter trabalhado com animações. Ao lado de Marv Wolfman produziu boas histórias do Superman, além do Vigilante e de Sword of Atom. Também ilustrou uma série de fantasia para a DC, intitulada Talos. Mas Kane não escondia seu desconforto em lidar com um padrão de heróis tão diferente do que ele ajudou a estabelecer nos anos 60 e 70.
“Foi aí que percebi que todo mundo estava desenhando no estilo ‘mangá’, e que Jim Lee, Liefeld e McFarlane – e um bocado de imitadores – estavam ocupando todos os espaços. Meu estilo não tinha nada a ver com a nova estética predominante. Os novos super-heróis, sombrios e armados até os dentes, pesavam 50 quilos a mais e eram, pelo menos, duas cabeças mais altos que os que eu estava desenhando!”.
Em 1990 volta à fantasia mais uma vez ao lado de Roy Thomas para fazer a inusitada adaptação da peça musical de Wagner, O Anel de Nibelungo. A história foi tão bem recebida que mereceu uma nota no jornal The New Tork Times.
Kane é considerado um dos mestres dos quadrinhos surgidos nos anos 70 ao lado de Neal Adams, Steve Ditko e Alex Toth. Kane faleceu em janeiro de 2000, de câncer. Seu último trabalho foi um especial do Superman, The Blood of my Ancestors, no qual ilustrou o roteiro de Steven Grant juntamente com John Buscema e Kevin Nowlan. Meses depois de sua morte, o livro Gil Kane: The Art of Comics foi publicado como uma homenagem ao autor, apresentando sua obra e trazendo desenhos em preto e branco, coloridos, e também notas de rodapé, listagem dos trabalhos, uma entrevista com Kane e diversos outros materiais.