Lee Falk
Um dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos e um dos primeiros a ter este reconhecimento, Lee Falk escrevia compulsivamente, desde muito jovem, contos, artigos e poemas. O criador de Mandrake e do septuagenário Fantasma, era um grande admirador e estudioso do teatro clássico, principalmente das tragédias e epopéias gregas. Esses textos foram inspiração para muitas histórias contadas pelo autor.
O caso mais ilustre de admiração que Lee Falk recebeu veio do cineasta italiano Frederico Fellini, que o considerava seu “Mestre” e declara sempre ter sonhado realizar um filme com personagens de seus quadrinhos. Fellini chegou a produzir fotos com Marcello Mastroianni vestido como Mandrake e Claudia Cardinalle como a Princesa Narda.
Léon Falk nasceu em St. Louis, no Missouri, em 1905. Após se graduar na Universidade de Illinois, trabalhou numa agência de publicidade como redator e escreveu e produziu programas de rádio para uma emissora de sua cidade natal. Foi então que conheceu um jovem ilustrador chamado Phil Davis. Juntos criaram a tira Mandrake, que venderam para o King Feature Syndicate, de Nova Iorque. A tira estreou em 11 de junho de 1934 e no ano seguinte ganhou as páginas coloridas dos suplementos dominicais.
Mandrake evocava a essência dos mágicos de vaudeville, que faziam espetáculos itinerantes pelo sul dos Estados Unidos, muito populares entre 1880 e 1920. As apresentações combinavam números de dança e acrobacias, música popular, encenações de operas e peças de teatro, adestramento de animais e todo tipo de “maravilhas exóticas de toda parte do mundo”. Estes elementos marcaram a infância de Falk e se tornaram a matéria prima das aventuras do mágico e seu fiel companheiro, o nobre africano Lothar. O rosto do personagem, baseado no do próprio Falk, reunia todos os traços típicos do homem de aventuras exóticas que o cinema da época tinha se encarregado de mistificar: elegante, viril, enigmático, cavalheiresco e pronto para a ação.
Era o momento da ascensão dos quadrinhos de aventura, que vinham ocupar o lugar das comédias de costumes familiares. Neste ano e no seguinte surgiram Flash Grodon, Jim das Selvas, Agente Secreto X-9 e Terry e os Piratas. Essa onda de interesse do público e o sucesso extraordinário das tiras de Lee Falk incentivaram a criação de mais um marco para os quadrinhos, o Fantasma.
O Espírito Que Anda apresentou-se como um conceito inovador de herói, com o visual que influenciaria todos os criadores de super-heróis anos mais tarde. A malha colante e a máscara eram parte fundamental do mito do justiceiro imortal, um segredo que atormentava a corja combatida pelo Fantasma mas que seus leitores conheciam tão bem, graças à clássica tira com o juramente, reprisada freqüentemente. A ironia de que este era o único herói que todos sabiam que poderia morrer e fazer surgir um sucessor deu-lhe um carisma sem igual ao personagem.
Além disso, as ambientações para as aventuras, sob o magnífico traço de Ray Moore, eram um atrativo irresistível. Em sua fase inicial, antes das complicações de um ferimento de guerra em 1942 afetarem a qualidade de seus desenhos, Moore criou uma atmosfera de filme noir no meio das paisagens selvagens por onde andava o herói. Cenas noturnas, sombras sugestivas e contornos suaves criaram uma combinação de influências visuais de uma originalidade poucas vezes vistas nos quadrinhos.
Certamente Moore e seu sucessor Wilson McCoy tinham uma compreensão do que significava uma narrativa “cinematográfica” tão precisa quanto a do gênio Will Eisner. Os empréstimos que fizeram da linguagem do cinema não se limitavam à imitação de um filme feita em papel, mas constituíam um elaborado trabalho de combinação e reinvenção de dois gêneros diferentes para criar algo maior e mais original.
Lee Falk esteve no Brasil em 1970 durante uma exposição de quadrinhos organizada pela Escola Panamericana de Arte e realizada no MASP (Museu de Arte de São Paulo). Nesta ocasião, declarou em uma entrevista que ao se deparar com o sucesso internacional de suas criações, sentiu-se confuso e intrigado por escrever histórias lidas por uma multidão de pessoas de todas as idades e de várias culturas diferentes e conflitantes. Chegou à conclusão que isso devia ter acontecido porque seus personagens possuíam algum elemento essencial que superava estas diferenças e que deveria ser fiel a esse princípio. “E constatei que milhões de pessoas – em todo o mundo – diariamente gostavam das mesmas coisas que eu gostava”.
Por muito tempo a comunidade dos quadrinhos privilegiou muito mais as realizações de artistas gráficos. Assim, o reconhecimento do trabalho de Lee Falk, um artista da palavra, é lembrado como um caso raro na história deste meio. Em 1971, no salão de Lucca, na Itália, Falk recebeu um troféu pela contribuição que seu trabalho trouxe aos quadrinhos. Ele faleceu em 1999, deixando muito fãs, princialmente do Fantasma, que teve sua trajetória cuidada pessoalmente por ele por mais de 60 anos.
Um grande segredo que Falk guardou durante toda sua vida e qua foi revelado apenas recentemente (2006) por seus filhos é que seu nome verdadeiro era Leon Harrison Gross e tinha origem judaíca. O artista alterou seu nome logo depois sair da faculdadede e um pouco antes de criar o Mandrake.