1. Aquela pergunta básica de todos que estão começando: Como o senhor aprendeu a desenhar? Fez cursos?
Cedraz: Eu morava no interior e, certa vez, vi uma pessoa desenhando e achei bonito. Então peguei lápis e papel e fiz também um desenho. O resultado foi satisfatório e não parei mais. Então comprei revistas e livros sobre o assunto e meti as caras.
2. Quais são suas influências? Existe uma a semelhança do seu traço com o do Maurício de Souza, vocês já conversaram sobre seus trabalhos?
No começo só chegavam poucas revistas na banca de minha cidade: Tarzan, Zorro, Bolinha, Luluzinha... Depois o Maurício. O Maurício, como a Margie (Luluzinha), teve realmente uma forte influência sobre o meu trabalho. Nunca encontrei pessoalmente com o Maurício e nunca conversamos a respeito.
3. Hoje, o que o senhor lê de quadrinhos?
Leio muito pouco. Acho o quadrinho atual (super-herói e Mangá) com argumentos muito chatos e repetitivos. O quadrinho deixou de ser algo prazeroso.
Atualmente tenho lido quase tudo que sai de quadrinho nacional. Compro sempre os álbuns lançados em várias partes do Brasil e creia, o material que estão publicando é de muito boa qualidade.
4. No Brasil, apesar de um público fiel e crescente o quadrinho ainda não é valorizado e desenhista ou cartunista por muitos não é considerada uma profissão de verdade. Como sua família aceitou sua decisão de seguir por essa área?
Para criar minha família eu optei por outra profissão; fui bancário por quase 28 anos. Durante esse tempo não deixei de perseguir o meu sonho e sempre que podia publicava meus trabalho. Minha família nunca implicou porque eu realmente era um bancário e me sustentava com isso. Mas o sonho de ser autor era muito forte e quando isso acontece não tem ninguém que impeça.
5. Qual foi o seu primeiro trabalho publicado? Qual a primeira
aparição da turma do Xaxado?
Meu primeiro trabalho publicado foram tirinhas no jornal A Tarde e depois desenho de humor para revistas da extinta EDREL. Meu maior incentivador foi o desenhista Cláudio Seto.
O personagem Xaxado nasceu em outra turma e foi publicado primeiramente em uma revista de passatempos. Mas a Turma do Xaxado surgiu em 1968 nas páginas do jornal A Tarde, aqui em Salvador.
6. Seu trabalho é mais direcionado ao público infantil, como é
trabalhar para crianças?
Como as tiras do Xaxado saem em jornais diários, eu tenho que manter uma linguagem que agrade o pai e a criança. Trabalhar com criança é sempre muito bom, pois a criança é verdadeira, quando ela não gosta de uma coisa ela diz logo.
7. A turma do Xaxado já foi cogitada para livros escolares? Na sua opinião, por que o governo ou mesmo as escolas particulares não levam quadrinhos para sala de aula?
O Xaxado já saiu em vários livros didáticos das Editoras Ática, Saraiva, FTD, etc. Eu sou muito requisitado para fazer palestras em escolas e falar do nosso trabalho. É surpreendente como as escolas estão usando os quadrinhos como material de apoio didático. Atualmente tenho vários livros de quadrinhos indicados e adotados como paradidáticos em várias escolas, inclusive fora da Bahia.
8. O mercado editorial brasileiro tem crescido bastante nos últimos anos, vários materiais alternativos e uma grande variedade de títulos e preços estão disponíveis nas bancas, esse crescimento tem ajudado o senhor também?
O mercado nacional é fechado para o quadrinho brasileiro. Só o Ziraldo e o Maurício tem revistas em bancas. Tenho insistido com algumas editoras mas elas continuam fechadas para a turma do Xaxado.
9. Sobre o regionalismo no seu trabalho. Apesar do público nordestino de quadrinhos ser muito grande (recebemos muitos e-mails desta região) sempre é dito que o eixo do mercado consumidor brasileiro é Rio-São Paulo, principalmente as capitais. Como isso afeta o seu trabalho? Há uma busca para um material regional? Você tem boa vendagem no Sudeste?
Isso me surpreendeu. 80% das cartas e e-mail que recebo são de fora da Bahia e do nordeste. Tenho recebido correspondências de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Minas Gerais e muitos outros lugares. O problema de vendagem está na distribuição. Os livros do Xaxado só são encontrados aqui em Salvador ou comprados via internet.
10. Como é sua produção editorial? O senhor mesmo banca as impressões?
Algumas edições são bancadas por mim mas a maioria são publicadas graças ao programa FAZCULTURA do Governo da Bahia.
11. A distribuição é feita exclusivamente pela internet? Porque esse material, que seria algo vendável em bancas, não atrai uma editora para uma distribuição nacional?
O mais difícil em qualquer publicação é a distribuição. Além de ser cara, (cerca de 55 a 60% do preço de uma revista vai para a distribuição) é muito difícil uma distribuidora nacional aceitar. As grandes editoras preferem apostar num quadrinho mais conhecido ou que sai na TV.
12. Hoje em dia os quadrinhos ficaram mais adultos, alega-se que o público envelheceu e quer materiais mais sérios, complexos e sinistros. Pelo que vemos das novas apostas das editoras, o espaço para quadrinhos infantis vem se encolhendo cada vez mais. Na sua opinião, qual a razão disso? O senhor gosta desse tipo de quadrinho mais adulto? Pensa em fazer algo nessa linha?
Se os editores continuarem pensando assim e fazendo quadrinhos só adultos, no futuro não vamos ter leitores. Os leitores do quadrinho adulto foram crianças que liam quadrinho infantil. Temos que formar leitores e estou fazendo isso indo às escolas e falando sobre meu trabalho. Os quadrinhos adultos não estão em meus planos.
12. Para finalizar, como falamos demais da Turma do Xaxado, o senhor tem outros personagens? Outros projetos? Quais?
Tenho dezenas de outros personagens mas estão todos engavetados. Minhas apostas atuais estão no Xaxado. Optei por investir numa marca só para poder me dedicar mais. Mas eu faço outros trabalhos avulsos para empresas. Tenho um estúdio (www.estudiocedraz.com.br) onde eu e minha equipe criamos desde um simples desenho até um revista completa com quantas páginas o cliente queira e paguem.